A filosofia de Xenogears: reflexão, religião e identidade num RPG icônico

A filosofia de Xenogears reflexão, religião e identidade num RPG ícone

Lançado em 1998 pela SquareSoft para PlayStation, Xenogears é lembrado não apenas como um dos JRPGs mais ambiciosos da era 32-bits, mas especialmente pela profundidade filosófica de sua narrativa. A premissa do jogo vai muito além da típica jornada heroica em mundos fantásticos. Temas como identidade fragmentada, crenças religiosas, dualidade, destino e natureza humana são explorados de forma rara para um videogame da época.

O protagonista, Fei Fong Wong, vive uma intensa crise de identidade, manifestada em múltiplas personalidades — incluindo o violento Id — que dialogam com conceitos da psicanálise freudiana e junguiana. Essas tensões internas refletem em eventos externos, como a rebelião de sua própria natureza física e emocional, alinhadas com disputas de poder que envolvem a entidade divina Deus, símbolo de controle e governo opressor.

Xenogears incorpora referências religiosas, como à mitologia bíblica, reencarnação, à Torre de Babel e à Árvore Yggdrasil. Esses elementos evocam tradições do gnosticismo, judaísmo, hinduísmo e outras religiões — sempre dentro de um contexto simbólico que questiona: “De onde viemos, quem somos e para onde vamos?”.

Ademais, conceitos de teóricos como Nietzsche permeiam o mundo de Xenogears e seus spin‑offs. Embora Xenosaga seja mais diretamente influenciado por obras como A Vontade de Poder, Xenogears também não evita refletir sobre o poder humano, o livre‐arbítrio e a superação pessoal em uma luta existencial pela autotranscendência.

Apesar de ser um RPG extenso (60–80 horas de gameplay), Xenogears se estrutura como uma obra quase literária. O segundo disco do jogo, quase todo narrado por texto e flashbacks, reflete limitações de desenvolvimento e orçamento — mas também funciona como recurso para aprofundar a tensão filosófica, ainda que de forma fragmentada.

A experiência audiovisual reforça essa proposta. A trilha sonora, assinada por Yasunori Mitsuda, combina elementos celtas e minimalistas com melodias carregadas de emoção, como em “Small Two of Pieces” — tema de encerramento que ecoa a jornada de sacrifício e redenção de Fei.

Com batalhas por turnos que incluem combates entre personagens e robôs gigantes chamados Gears, Xenogears equilibra filosofia com ação e exploração. A narrativa aborda temas como divisão de classes, manipulação governamental, trauma, guerra e identidade coletiva, tornando o jogo relevante ainda décadas depois.

Embora apresente falhas — especialmente na execução narrativa do segundo disco e nos controles mais limitados — o legado de Xenogears segue vivo. É uma obra que, mesmo incompleta, continua provocando reflexões sobre espiritualidade, poder e o papel humano diante de sistemas opressivos.

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Neutrinos

Gamer por profissão, web designer e especialista em SEO por hobby. Minha paixão pelos games começou aos 7 anos, entre moedas para o fliperama e tardes mágicas nas locadoras de games. O resto? Heh… só quem joga entende.

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